Foi realizada, no dia 19 de outubro, na Fundação Fé e Alegria / Montes Claros, a Conferência Livre Norte, para construção do I Plano Estadual de Políticas para refugiado, migrantes, apátridas e retornados de Minas Gerais.
O evento teve como objetivo, abordar as dificuldades apontadas pelos migrantes que saírem do seu país. Além de esclarecer sobre o acesso às politicas públicas, tanto do município como no estado, para que a Secretária de Desenvolvimento Social- Sedese possa conhecer e mudar a realidade destas pessoas.
De acordo com a facility do Serviço Jesuítas Refugiados, Rosana Beatriz Mourão Xavier, Montes Claros conta hoje com cerca de 40 migrantes, das mais diversas etnias, como haitianos, cubanos asiáticos e venezuelanos. – “Eles chegam aqui em Montes Claros , por meio do projeto Acolhe Minas, outros vieram para o interior com o projeto Jesuítas, alguns chegaram por conhecimento de familiares. Os haitianos, por exemplo, vieram por conta do emprego, uma vez que trabalhavam em empresas nacionais que migraram de um estado para o outro”- esclareceu Rosana.
Os refugiados que chegam ao Brasil são acompanhados pela Polícia Federal, para que possam regularizar a sua documentação de permanência no país. –“Existe um prazo para estarem no Brasil, por isso retornam para fazer outro acompanhamento na Policia para residir de forma legal aqui”- esclareceu.
Mas segundo a facility, as fragilidades que encontram quando chegam a outro país são muitas. “- Falta acolhimento na questão de assistência, saúde, e no trabalho para que estas pessoas possam ter uma vida com mais esperança. A grande angustia que eles pontuam é a questão do trabalho, eles tem um grande dificuldade de entrarem no mercado, por conta da língua, e não há uma politica pública no Brasil, para ingressá-los no mercado de trabalho e é isso que queremos mudar”- reforça.
A conferência também é um incentivo para que os migrantes possam vislumbrar novas formas acolhimento quando veem para outro país, em busca de oportunidade de reconstrução da sua vida.
Elemene Celestino, haitiana, é uma delas, que há cinco anos veio para o Brasil e está em Montes Claros a menos de um ano. “- Chegamos ao Brasil para uma vida melhor, porque no Haiti, não temos como nos manter, a minoria das pessoas conseguem sobreviver por lá. E foi a partir dai que iniciei a minha jornada em busca de uma nova vida, cheguei a são Paulo, passei por Goiânia e depois fui transferida por meio de uma construtora que trabalho para Montes Claros”.
E complementou; - “Vim somente com o meu esposo, ao Brasil, mas agora conto com a presença das minhas duas filhas e uma prima. Por aqui já passou muitos haitianos, mas por falta de permanência no emprego, ou até mesmo por não terem oportunidade, tiveram que voltar”.
Elemene é um também um exemplo de superação, mesmo com sua língua nativa , francês crioulo, aprendeu o português graças a seu esforço e afirma que mesmo com as dificuldades ainda na comunicação, Montes Claros, não se compara com o sofrimento que passava no Haiti. “- Aqui comemos, sentimos seguros, tudo é melhor, tudo. Eu me sinto aliviada com este aparo que estou recebendo, e tenho esperança de dias melhores para minha família e para todos que desejar vir para Montes Claros”.
Para ela, é importante que a sociedade saiba que não vieram para tirar nada de ninguém, mas para ter a certeza de que podemos reescrever uma nova história. “- Confesso que mesmo sorrindo eu sofro todos os dias em saber que há tanta gente sofrendo em meu país e que não teve a mesma oportunidade que eu e minha família estamos tendo.”- relatou.
Evento
O evento contou com representantes de forma presencial de virtual do Serviço Jesuítas e migrantes e refugiados Brasil, CRDH Norte - Centro de Referência em Direitos Humanos, Cáritas Brasileiras (É uma entidade de promoção e atuação social que trabalha na defesa dos direitos humanos, da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável solidário), representante política, o apoio OIM- Organização Internacional para as Migrações e Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados - UNHCR ACNUR e da parceria da Fundação Fé e Alegria.
Além de voluntários, como o caso da Heloísa Menezes, que a cerca de três anos decidiu doar parte do seu tempo e abraçar esta causa. Ela conta que este desejo partiu , quando passou a conhecer os migrantes em uma Paróquia, administrada por Jesuítas, na região do Grande Maracanã, em Montes Claros. “ - O que posso dizer acima de tudo é Fratelitute “ todos somos irmãos” , e é assim que me sinto, quando tenho a oportunidade de trabalhar na acolhida destas pessoas que estão vindo de tão longe com tanto desafios , sentimentos ambíguo, ao mesmo tempo que desejam encontrar uma esperança de um novo, e ao mesmo tempo aquela angustia de ter deixado tudo para trás, em seu país de origem”- contou.
Segundo Heloísa o trabalho de voluntário vai além da doação ao próximo. “- Precisamos conhecer às necessidades primais destas pessoas, que foram violadas ao longo da sua história. É uma luta constante, mas é muito gratificante porque a gente envolve com estes processos e a cada dia é uma emoção diferente em poder fazer um pouco, para quem mais necessita”, - finalizou.
Da redação