Autonomia e flexibilidade de horários motivam a maioria das mães a investir no próprio negócio em Minas Gerais
Sete em cada 10 mães empreendedoras de Minas Gerais abriram a empresa depois de terem filhos. E para 63% das mulheres, a maternidade influenciou na decisão de empreender, principalmente em função da busca de autonomia e flexibilidade de horários (67%), além da necessidade de aumentar a renda familiar (63%). Os dados são da Pesquisa Maternidade e Paternidade no Empreendedorismo, realizada pelo Sebrae Minas.
O estudo foi realizado em abril deste ano com 1.326 empreendedores, entre os quais 973 (73%) têm filhos: 287 mães e 686 pais. “A pesquisa nos permite investigar semelhanças e diferenças entre mães e pais empreendedores, tanto no que se refere a motivações para abrir o negócio, quanto em relação aos desafios em conciliar os cuidados com os filhos, as tarefas domésticas e a dedicação ao negócio”, explica o diretor Técnico do Sebrae Minas, Douglas Cabido.
O estudo mostra que a maioria das mães empreendedoras (85%) dedica mais tempo aos cuidados da casa e dos filhos, contra 25% dos pais empreendedores. “Os dados confirmam que as mulheres continuam sendo mais responsabilizadas do que os homens no que se refere às tarefas domésticas e à criação dos filhos”, destaca Cabido. Um exemplo do desequilíbrio é o número de dias da semana em que pais e mães dedicam-se a preparar a alimentação da família: 60% das mães afirmam ter essa rotina diariamente, enquanto entre os pais a proporção cai para 28%.
Tarefas rotineiras como o apoio nas atividades escolares e os cuidados com a higiene dos filhos também são assumidas mais pelas mães do que pelos pais. “Existe, portanto, um acúmulo de atividades domésticas assumidas por mulheres, especialmente mães, em relação aos homens, e esta sobrecarga limita as mulheres a se dedicarem à gestão do negócio de maneira ideal”, avalia o diretor do Sebrae Minas.
Desafios para conciliar tarefas
De acordo com a pesquisa, quando questionados sobre os desafios de conciliar o cuidado dos filhos com a gestão do negócio, 58% dos pais e 45% das mães afirmaram não terem dificuldades. Dos que afirmaram ter alguma dificuldade, 25% das mães e 13% dos pais disseram que não conseguem dedicar tempo suficiente ao cuidado com o negócio; enquanto14% das mães e 8% dos pais não têm com quem deixar os filhos.
“Muitas mulheres empreendem para conseguir independência financeira, ao mesmo tempo em que realizam o sonho da maternidade. Contudo, para que tenham sucesso em seus negócios, é necessário que elas contem com uma rede de apoio. Familiares, creches e iniciativas que possibilitem mais oportunidades para que as mães possam se dedicar ao desenvolvimento de suas habilidades e competências são essenciais para garantir a inserção feminina no empreendedorismo”, afirma Douglas Cabido.
Perfil das famílias
A pesquisa do Sebrae Minas também traz um panorama da composição das famílias dos empreendedores. Oito em cada 10 pais empreendedores são casados. Entre as mães, 67% são casadas. O percentual de pais e mães empreendedores separados ou divorciados é de 11%. Há um percentual maior de mães solteiras (18%) e viúvas (3%) do que de pais solteiros (9%) e viúvos (1%).
Pesquisa Maternidade e Paternidade no Empreendedorismo
Empreendia antes de ter filhos
29% das mães
46% dos pais
Empreendeu depois de ter filhos
71% das mães
54% dos pais
Filhos influenciaram na decisão de empreender
63% das mães
39% dos pais
Motivações para empreender
Aumentar a renda familiar: 72% dos pais X 62% das mães
Maior independência financeira e flexibilidade de horários: 67% das mães X 41% dos pais
Principais responsáveis pelos cuidados com os filhos e a casa
85% das mães
25% dos pais
Preparo da alimentação da família
Diariamente: 60% das mães X 28% dos pais
Não realizam esta atividade: 27% dos pais X 7% das mães
Limpeza da casa, louças e roupas
Diariamente: 58% das mães X 26% dos pais
Não realizam estas atividades: 25% dos pais X 5% das mães
Apoio aos filhos nas tarefas escolares
5 dias da semana ou mais: 45% das mães X 25% dos pais
Higiene dos filhos
5 dias da semana ou mais: 60% das mães X 44% dos pais
Não têm dificuldades de conciliar o cuidado com os filhos e os negócios
58% dos pais
45% das mães
Não conseguem dedicar mais tempo aos negócios
25% das mães
13% dos pais
Não têm com quem deixar os filhos enquanto estão no trabalho
14% das mães
8% dos pais
Empreender em nome de um sonho – Ela empreendeu para realizar o sonho dos filhos e se formou em Administração aos 64 anos
Maria Dantas de Freitas Costa, 73 anos, moradora de Janaúba, no Norte de Minas, é um exemplo de mãe que conciliou a profissão de educadora com o empreendedorismo para aumentar a renda familiar, e realizar o sonho dos filhos de se formarem em Medicina. Ainda como professora do ensino fundamental, papel que ocupou por 25 anos até se aposentar, Dantas, como é conhecida na cidade, já intercalava as aulas com viagens à São Paulo para comprar roupas e revender.
O amor pelos filhos e o sonho da faculdade foram os ingredientes para que ela passasse de sacoleira a dona de loja, a Sonho e Fantasia Moda Íntima. No começo, ela abriu o negócio em uma galeria sem muita visibilidade. Anos depois, conseguiu um espaço melhor em uma avenida na região central da cidade, onde o empreendimento prosperou. Além de moda íntima, a loja comercializa também moda fitness e praia.
“Quando meus filhos falaram que queriam ser médicos, meu marido disse que éramos pobres e não tínhamos condições de arcar com as despesas. Mas eu não desisti e batalhei muito pelo sonho deles. Além do trabalho na loja, dei aula particular na minha casa à noite para aumentar a renda”, conta. A empreendedora reforça que os filhos se dedicaram, estudaram e foram aprovados no vestibular de medicina em uma universidade pública de Belo Horizonte. “Eles fizeram a parte deles. E graças ao meu empreendimento, conseguimos arcar com as despesas na capital até se formarem. Sou extremamente realizada por isso, vivi e vivo por eles”, diz emocionada.
Dantas lembra que sempre teve um espirito empreendedor, principalmente, com vendas, mas não conseguia organizar a loja. Esse foi um dos motivos que a levou a fazer faculdade de Administração aos 64 anos. “Meus filhos já estavam formados e me incentivaram a fazer um curso superior. Na faculdade, e com o apoio dos cursos e orientações do Sebrae, passei a enxergar minha empresa com outros olhos. Hoje, a loja é estruturada e aprendi a delegar. Estou sempre me aperfeiçoando e sou referência em toda região”, conta.
Perguntada como é ver os filhos formados com apoio do seu trabalho, ela não esconde o orgulho. “Faria tudo de novo se necessário fosse. Amo meu trabalho, amo minha loja e sobretudo, amo meus filhos, e agora meus dois netos. Tudo o que fiz, foi por eles”, enfatiza.
Recentemente, a empreendedora venceu mais uma batalha. Dois anos após ser diagnosticada com câncer e passar por quimioterapia, em agosto do ano passado, recebeu a confirmação de que estava curada. Ela credita a cura ao pensamento positivo e ao trabalho.” Minha mente está sempre ocupada com coisas positivas. A vontade de trabalhar e de cuidar da loja me deram forças para enfrentar a doença”, finaliza.
Texto : Cida Santana/ foto : divulgação